Torre Palace: primeiro hotel de luxo de Brasília está abandonado há anos e virou disputa judicial sem fim; conheça história
05/10/2025
(Foto: Reprodução) DF Legal recomenda demolição do Torre Palace
Primeiro hotel de luxo da história de Brasília, o Torre Palace foi inaugurado em 1973 com classificação quatro estrelas e visitas frequentes de personalidades e celebridades.
O hotel funcionou por 40 anos às margens do Eixo Monumental, com vista privilegiada para a Esplanada dos Ministérios. Mas, em 2013, o hotel fechou as portas – e o prédio que era símbolo de luxo e ostentação virou sinônimo de briga de família, disputas judiciais e problema para o governo.
No início de setembro, o governo voltou a se movimentar para conseguir, na Justiça, uma decisão que autorize a demolição do hotel. Ou melhor, do que sobrou do hotel.
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Em 2019, um pedido do mesmo tipo foi feito, mas a Justiça do DF negou a demolição. Em vez disso, ordenou que os herdeiros do prédio fizessem a manutenção do espaço.
O governo quer tentar novamente, alegando que essa ordem de manutenção não está sendo respeitada.
Veja abaixo, em detalhes, a história do Torre Palace e a situação atual do prédio.
Do luxo ao esquecimento
O Torre Palace foi fundado pelo empresário libanês Jibran El-Hadj e inaugurado em 1973, com 14 andares e 140 apartamentos.
Localizado no Setor Hoteleiro Norte, o hotel tinha vista privilegiada do Congresso Nacional, da Esplanada dos Ministérios, da Catedral Metropolitana, do Museu da República, da Torre de TV e do estádio Mané Garrincha, todos instalados no Eixo Monumental.
Com a morte do patriarca, em 2000, a esposa e os seis filhos herdaram o patrimônio, avaliado à época em R$ 200 milhões.
No entanto, a família entrou em desacordo sobre os rumos que deveriam ser tomados para o estabelecimento.
O hotel abandonado Torre Palace, no centro de Brasília
Renato Araújo/Agência Brasília
Em 2007, três filhos do empresário saíram da sociedade e entraram na Justiça pedindo parte da herança, com valor estimado de R$ 51 milhões.
O valor sairia da venda do Torre Palace para uma construtora.
A empresa adiantou R$ 17 milhões para os herdeiros que mantiveram a sociedade. Contudo, antes da venda do prédio, a Justiça já havia penhorado o local.
Prédio abandonado
Hotel abandonado em Brasília abriga cracolândia que abastece tráfico no DF
Em 2015, o prédio completamente abandonado se transformou em ponto de uso de drogas e convivência de moradores de rua.
Os vidros das janelas e do hall de entrada foram quebrados em atos de vandalismo, e foram feitas pichações e danos à pintura na fachada do edifício.
Segundo hóspedes e funcionários de hotéis vizinhos, os "invasores" do Torre Palace:
ocupavam os andares durante a madrugada,
atiravam coisas das janelas,
quebravam vidros e
ameaçavam quem passava pelo local.
Cama em quarto de hotel abandonado em Brasília
Vianey Bentes/TV Globo
Operação de desocupação
Em junho de 2016, a Polícia Militar do Distrito Federal conseguiu retirar todos os invasores do prédio abandonado.
A ação levou 40 minutos, envolveu dois helicópteros, disparos de bala de borracha e bombas de efeito moral.
Os invasores, ligados a movimentos sociais, revidaram com pedras, tijolos e telhas. Eles chegaram a usar um fogão e um botijão de gás, incendiando o alto do prédio.
Enquanto isso, policiais subiam pelas escadas retirando as barricadas montadas pelos ocupantes, obrigando-os a subir até o topo do prédio, onde acabaram detidos. Policiais usaram balas de borracha e uma pessoa chegou a ser ferida no rosto.
Cerca de 200 homens do Batalhão de Choque e do batalhão de Operações Especiais (Bope) participaram da operação, que teve também o auxílio do Corpo de Bombeiros.
Veja no vídeo abaixo a reportagem completa sobre a operação:
Operação para desocupar prédio do antigo Hotel Torre Palace dura 35 minutos
Governo do DF tenta recuperar gastos
O GDF gastou R$ 802,94 mil com a operação de desocupação do hotel Torre Palace, e não conseguiu recuperar o valor. O dinheiro seria cobrado dos proprietários do hotel abandonado na Justiça.
No entanto, um imbróglio burocrático fez com que o imóvel permanecesse em um "limbo jurídico": não pode ser restaurado, nem vendido, nem demolido.
Em 2017, a Procuradoria-Geral do DF defendia que os proprietários deveriam ser condenados a derrubar o prédio em 60 dias.
Mas o processo seguiu parado porque a Justiça não conseguiu localizar os herdeiros, que disputavam a posse do terreno nos tribunais. Segundo o GDF, a restrição impediu o ressarcimento do gasto com a operação.
O cálculo do valor de R$ 802,94 mil incluí despesas com equipamentos, material e com o efetivo de segurança mobilizado na operação, que durou mais de 96 horas. A "fatura" envolvia até o reparo de um helicóptero da Polícia Militar atingido durante a intervenção.
Hotel volta a ser 'point' de drogas
Pessoas voltam a frequentar hotel Torre Palace, em Brasília
Arquivo pessoal
Dois anos após a operação policial que retirou quase 200 pessoas que ocupavam irregularmente os 14 andares do antigo hotel Torre Palace, o local voltou a ser frequentado por usuários de drogas.
Na época, clientes e funcionários de outros empreendimentos do Setor Hoteleiro Norte – área considerada nobre – afirmaram ao g1 que, apesar de o prédio estar com todas as entradas do térreo fechadas por blocos de concreto, "havia pessoas que escalavam as paredes para acessar a parte de cima".
Tentativa de leilão
Em 2020 o hotel Torre Palace foi a leilão, avaliado em R$ 35 milhões.
No entanto, mesmo depois de seis dias de pregão online, o prédio não recebeu nenhum lance.
A venda do prédio foi determinada pela Justiça do Trabalho, e o valor arrecadado deveria ser utilizado para pagar dívidas de salários e direitos trabalhistas de ex-funcionários.
O edital previa uma segunda tentativa de leilão. Em 16 de dezembro de 2020, o hotel foi arrematado por R$ 17,6 milhões pela empresa RBS Administração de Imóveis LTDA.
Entretanto, a empresa entrou com pedido de desistência na Justiça, que foi aceito.
Pedido de demolição do prédio
Área interna do hotel Torre Palace, com escadas sem proteção
Nilson Carvalho/Agência Brasília
Em 2019, o governo do Distrito Federal pediu a demolição do prédio do hotel Torre Palace, pois o edifício estava abandonado e continuava sendo ocupado de forma ilegal por pichadores, usuários de drogas e pessoas em situação de rua.
No entanto, a procuradoria pediu um laudo pericial do prédio, que indicou que, apesar das péssimas condições do local, não havia risco evidente de abalo estrutural.
Com base na conclusão dos peritos, o juiz da 8ª Vara da Fazenda Pública condenou os donos do hotel a "realizar as obras de manutenção e de reparos urgentes indicadas no laudo pericial, sob pena de multa diária no valor de R$ 5 mil, até o máximo de R$ 5 milhões".
Neste ano, o DF Legal disse que houve descumprimento dessa decisão judicial, tendo em vista o estado de abandono do prédio, e encaminhou um novo pedido pela demolição do Torre Palace.
Segundo a procuradoria, recentemente, o imóvel foi transferido para novos proprietários.
Mesmo com essa mudança, os novos donos devem cumprir a sentença de fazer a manutenção e os reparos nas estruturas.
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